O leitor Fernando Mendes, discorda de matéria anterior e envia a matéria que publicamos a seguir. Tire suas prórias conclusões. A verdade é que nosso ilustre personagem tem fortes implicações espirituais. Se ele pertence às trevas ou à Luz, só o tempo dirá.
A Visão Planetária de Barack Obama
O Presidente Eleito dos Estados Unidos
Resgata Idéias da Filosofia Teosófica Clássica
Carlos Cardoso Aveline
O Presidente Eleito dos Estados Unidos
Resgata Idéias da Filosofia Teosófica Clássica
Carlos Cardoso Aveline
“O verdadeiro teosofista não pertence a nenhum
culto ou seita, e no entanto pertence a todos eles”.
Robert Crosbie
Robert Crosbie
“Em nossa casa, a Bíblia, o Alcorão e o Bhagavad
Gita ficavam na prateleira juntamente com os livros
da mitologia grega, norueguesa e africana. Na
Páscoa ou no Natal [minha mãe] me arrastava para
a igreja, assim como para templos budistas, para a
celebração do Ano Novo chinês, para santuários
xintoístas ou para antigos locais de rituais havaianos.”
da mitologia grega, norueguesa e africana. Na
Páscoa ou no Natal [minha mãe] me arrastava para
a igreja, assim como para templos budistas, para a
celebração do Ano Novo chinês, para santuários
xintoístas ou para antigos locais de rituais havaianos.”
Barack Obama
A teosofia é uma filosofia planetária e a sua meta primeira é despertar a compreensão e a vivência da fraternidade universal. Assim como o movimento teosófico, ela é independente de rótulos, nomes pessoais, ideologias ou organizações. O que define o verdadeiro campo de ação da teosofia clássica e do seu estudante são fatores muito reais mas intangíveis como a compreensão das leis da natureza, a consciência ética e uma solidariedade para com todos os seres.
Ter acesso à sabedoria divina é um assunto de almas e não de corporações ou instituições. William Judge, um dos principais fundadores do movimento esotérico moderno, escreveu:
“Como o Movimento Teosófico é contínuo, ele pode ser encontrado em todos os tempos e todas as nações. Onde quer que o pensamento venha lutando para ser livre, onde quer que as idéias espirituais tenham sido promulgadas em oposição às formas e ao dogmatismo, lá o grande movimento pode ser percebido.” [1]
Deste ponto de vista, um cidadão de boa vontade e visão ampla pode ser considerado um verdadeiro teosofista, ainda que não seja membro de qualquer agrupação teosófica. Não importa se ele é cristão, judeu, budista, muçulmano ou seguidor de uma ou de outra filosofia. Na medida em que ele compreende a universalidade da ética planetária, sua vida ajuda a abrir espaço para a percepção da fraternidade universal, e ele é um verdadeiro teosofista, no plano da alma.
Este talvez seja o caso do senador Barack Obama, eleito presidente dos Estados Unidos em novembro de 2008 e que agora se prepara para assumir a liderança do país mais influente do nosso processo civilizatorio. Examinando fatos da vida de Obama e fragmentos dos livros que escreveu, poderemos avaliar o tamanho da afinidade entre ele e a ética e a sabedoria universais.
Derrubar os Muros Entre Povos, Raças e Religiões.
Em julho de 2008, Barack Obama falou em Berlim, Alemanha, para uma multidão calculada pelas autoridades policiais em duzentas mil pessoas. Ele abriu o evento sem precedentes esclarecendo que estava ali na condição de “cidadão do mundo” – uma expressão que contém em si mesma a idéia da cidadania planetária e de um mundo sem fronteiras. Ali estava um cidadão em campanha eleitoral nos Estados Unidos, falando em manifestação de rua em país europeu. Em seguida, Obama formulou a sua proposta de cooperação entre todos os povos. Referindo-se indiretamente à derrubada democrática do Muro de Berlim, em 1989, ele disse:
“A solidariedade e a cooperação entre as nações não é uma escolha. É o único caminho, o único caminho, para proteger a nossa segurança comum e fazer avançar a nossa humanidade comum. É por isso que o maior de todos os perigos seria permitir que novos muros nos dividam um dos outros. Os muros entre os velhos aliados dos dois lados do Atlântico não podem ficar de pé. Os muros entre os países que têm muito e os países que têm muito pouco não podem ficar de pé. Os muros entre raças e tribos; nativos e imigrantes; cristãos e muçulmanos e judeus, não podem ficar em pé. Estes são, agora, os muros que nós devemos derrubar. Nós sabemos que eles caíram antes. Depois de séculos de conflito, os povos da Europa formaram uma união promissora e próspera.”
E prosseguiu:
“Aqui, na base de uma coluna construída para marcar a vitória na guerra, nós nos encontramos no centro de uma Europa em paz. Muros caíram não só em Berlim, mas eles vieram abaixo em Belfast, onde os protestantes e os católicos descobriram uma maneira de viver lado a lado; nos Balcãs, onde a nossa aliança Atlântica terminou as guerras e apresentou criminosos de guerra à justiça; e na África do Sul, onde a luta de um povo corajoso derrotou o apartheid. Assim, a história nos faz lembrar do fato de que os muros podem ser derrubados. Mas a tarefa nunca é fácil. A verdadeira cooperação e o verdadeiro progresso requerem um trabalho constante e um sacrifício contínuo. Eles exigem que se compartilhe as responsabilidades do desenvolvimento e da diplomacia; do progresso e da paz. Eles requerem aliados que escutam uns aos outros, que aprendem uns dos outros, e, sobretudo, que confiam uns nos outros.” [2]
Libertar o Mundo Das Armas Nucleares.
Barack Obama acrescentou:
“Este é o momento em que devemos renovar a meta de um mundo sem armas nucleares. As duas superpotências que olhavam uma para a outra através do muro desta cidade estiveram demasiado perto, por um tempo demasiado longo, de destruir tudo o que nós construímos e tudo o que amamos. Com o final daquele muro, nós não necessitamos ficar parados sem fazer nada, olhando para a proliferação da energia atômica mortal. (...) Este é o momento de começar a trabalhar em busca da paz de um mundo livre de armas nucleares.”
Depois ele falou vigorosamente da necessidade de paz no Oriente Médio, e abordou a questão da ecologia planetária. Obama disse:
“Este é o momento em que devemos unir-nos para salvar este planeta. Devemos tomar a decisão de que não deixaremos para nossos filhos um mundo em que os oceanos se elevam, e a fome se espalha, e tempestades terríveis devastam as nossas terras. Devemos decidir que todas as nações – inclusive a minha própria – agirão com a mesma seriedade de propósito que a sua nação [a Alemanha], e reduzirão o carbono que colocam na atmosfera. [3] Este é o momento em que devemos devolver às nossas crianças o futuro que pertence a elas. Este é o momento para agirmos em unidade.” [4]
A Intenção de Refazer o Mundo.
Obama parece saber o que deve fazer. E não pode ser acusado de possuir metas demasiado pequenas. Filho de um queniano, e nascido Havaí, ele concluiu o seu principal discurso fora dos Estados Unidos com estas palavras:
“Povo de Berlim – povo do mundo – este é o nosso momento. Esta é a nossa vez. Eu sei que meu país não tem se aperfeiçoado. (...) Nós temos a nossa quota de erros. (...) Mas também sei que (...) durante mais de duzentos anos, nós temos nos esforçado (...) com outras nações, [por] um mundo com mais esperança. Nosso compromisso nunca foi com qualquer tribo ou reino especificamente – na verdade, todas as línguas são faladas em nosso país; todas as culturas deixaram sua marca na nossa cultura; e cada ponto de vista é expressado em nossas praças públicas. O que sempre nos uniu – o que sempre mobilizou o meu povo – o que atraiu o meu pai para o território norte-americano, é um conjunto de ideais que correspondem a aspirações compartilhadas por todos os povos: a crença de que podemos viver livres do medo e de necessidades materiais graves; de que podemos dizer o que pensamos, e reunir-nos com quem quisermos, e seguir a religião que acharmos melhor. (...) Povo de Berlim – e povo do mundo – a escala do nosso desafio é grande. O caminho à frente será longo. Mas venho dizer a vocês que somos herdeiros de uma luta por liberdade. Que somos um povo de esperanças improváveis. Com o olhar voltado para o futuro, com decisão em nossos corações, que possamos lembrar desta história, fazer frente ao nosso destino e refazer o mundo mais uma vez.”
Muito antes do discurso de Berlim, Obama já tinha esta clareza de metas.
Em fevereiro de 2007, ao fazer o discurso de lançamento da sua candidatura, ele assumira um compromisso com a mudança ética e ecológica em escala planetária:
“Sejamos a geração que finalmente liberta a América do Norte da tirania do petróleo. Podemos usar combustíveis alternativos, produzidos localmente, como o etanol, e aumentar a produção de carros com mais eficiência energética. Podemos estabelecer um sistema de fixação de gases que produzem o efeito estufa. Podemos transformar esta crise de aquecimento global em uma oportunidade para inovar, e para criar empregos, e para incentivar empreendimentos que servirão de modelo para o mundo. Sejamos a geração que faz com que as futuras gerações tenham orgulho do que nós fizemos aqui.” [5]
Sem receio de assumir metas visionárias – e olhando muito além das eleições norte-americanas –, ele disse naquela ocasião inaugural:
“E se vocês se somam a mim nesta luta improvável, se vocês sentem o chamado do destino, e vêem, como eu vejo, que o momento de acordar e de abandonar o medo é agora, assim como o momento de pagar a dívida que temos diante das gerações passadas e futuras, então estou pronto a assumir esta causa e marchar com vocês, e trabalhar com vocês. Juntos, a partir de hoje, que completemos o trabalho que necessita ser feito, de trazer para esta Terra um novo nascimento da liberdade.” [6]
A Regra de Ouro.
A proposta de Obama para os Estados Unidos e o mundo é acusada por seus adversários de ser vaga e ambígua. Ele chegou a ser qualificado como “pouco norte-americano”. A verdade é que ele tem uma visão mais complexa e mais profunda do que meras bandeiras eleitorais ou nacionalistas. A base do seu discurso é simultaneamente inter-religiosa, ética e filosófica. Está na famosa Regra de Ouro, um velho princípio da filosofia clássica grega e da antiga sabedoria oriental, que foi ensinado por Confúcio nos “Analectos” e adotado mais tarde pelo cristianismo. Este princípio ético milenar poderia ser chamado, corretamente, de “lei do bom carma”.
Obama esclarece:
“No final das contas, o que se necessita é nada mais, nada menos, que aquilo que todas as grandes religiões do mundo exigem – que façamos aos outros aquilo que queremos que eles façam a nós. Devemos proteger o nosso irmão, como a escritura diz. Devemos proteger a nossa irmã. Devemos encontrar aquele interesse comum que todos temos uns nos outros, e fazer com que a nossa política reflita este espírito.” [7]
O Espírito de Aloha.
O que será que existe de autenticamente teosófico na vida real de Barack Obama, e que possa explicar o seu constante discurso de adesão e de compromisso com a Ética Universal presente em todas as religiões? Qual é a sua formação, do ponto de vista da visão universalista da vida? Em que atmosfera Obama foi criado?
Ele nasceu em agosto de 1961 no Havaí. Não por casualidade a sua vida e suas idéias parecem expressar, até certo ponto, o espírito de “Aloha”.
A palavra “Aloha” é um verdadeiro mantra sagrado na cultura havaiana, famosa mundialmente por sua abertura mental e fraternidade em relação a todos os povos. É uma saudação e um conceito universalista. O termo é considerado equivalente à palavra sânscrita “Namastê” (“a divindade em mim saúda a divindade em você”); mas também significa “Shalom”, “Paz”, assim como “Compaixão” e “Amizade”.
O chamado “espírito de Aloha” implica um estado mental de paz consigo mesmo e com todos os seres. A filosofia, o discurso e a prática de Barack Obama parecem expressar alguma coisa deste mantra e desta cultura presentes em sua juventude.
Os avós maternos de Barack, que tiveram um papel central na educação do garoto, não só viviam no Havaí com o neto mas foram influenciados em determinado momento pela Igreja Unitária Universalista. Esta era uma igreja que buscava a confraternização das religiões e que mantinha laços estreitos com a Sociedade hinduísta Brahmo Samaj. A pensadora russa Helena Blavatsky escreveu extensamente sobre o movimento Brahmo Samaj, elogiando seu fundador e criticando os erros cometidos por seus líderes posteriores. [8] Barack Obama escreveu, sobre seu avô materno:
“Ele gostava da idéia de que os Unitários estudavam as escrituras de todas as grandes religiões”.
Para o avô, segundo Barack, era “como ter cinco religiões em uma”. [9]
Um Avô Que Era Curandeiro Africano.
Quanto ao avô paterno de Barack Obama, Hussein Onyango Obama, ele foi um curandeiro africano do Quênia, um muçulmano com poderes de cura e imerso nas tradições da cultura local. [10]
O pai de Barack Obama, africano e negro, também se chamava Barack. Este foi seu mestre e seu herói. Barack, o pai, deixou na vida de Barack, o filho, uma presença transcendente e uma influência mítica. No mundo infantil de Barack, o mundo intangível em que seu pai existia se misturava de algum modo com as origens do cosmo.
Cabe lembrar que a origem e o destino do universo é um tema teosófico por excelência.
Na sabedoria esotérica oriental, o assunto se relaciona com o caminho das grandes iniciações. Ao longo da sua obra “A Doutrina Secreta”, H. P. Blavatsky faz um estudo comparado das principais narrativas da origem do universo e do homem, mostrando os pontos em comum que há entre os relatos dos caldeus, da Bíblia, do Popol Vuh centro-americano, dos Puranas hindus, da Cabala judaica e de muitos outros povos. Barack Obama enfrentou este tema cósmico em sua infância, junto ao tema do pai-mito.
Em um dos seus livros, ele confessa, não sem humor:
“... O caminho da vida do meu pai ocupava o mesmo terreno que um livro que minha mãe comprou uma vez para mim, um livro chamado “Origens”, uma coleção de histórias da Criação de todas as partes do mundo, histórias de Gênese e da árvore na qual havia nascido o homem, Prometeu e o presente do fogo, a tartaruga da lenda hindu que flutuava no espaço, sustentando o peso do mundo sobre as suas costas. Mais tarde, quando fiquei mais acostumado ao caminho estreito para a felicidade a ser encontrado na televisão e nos filmes, eu ficava perplexo com várias questões. Em que se apoiava a tartaruga? Por que motivo um Deus onipotente permitiu que uma serpente causasse tamanho sofrimento? Por que meu pai não voltava? Mas com cinco ou seis anos de idade eu estava satisfeito com deixar estes mistérios distantes intactos...”. [11]
Mãe Universalista e Anti-Dogmática.
Foi a mãe de Obama, branca e norte-americana, que lhe transmitiu na vida diária a visão inter-religiosa e universalista, assim como o hábito diário do auto-treinamento e da auto-disciplina. Ela mantinha uma distância crítica das religiões dogmáticas, assim como faz a teosofia clássica e original, enquanto a pseudo-teosofia, lamentavelmente, cria versões próprias da religiosidade exotérica, com seus dogmas e sacerdotes.
Barack escreve que seus avós passaram à sua mãe uma combinação de racionalismo com jovialidade, e acrescenta:
“As próprias experiências de minha mãe como criança sensível e amiga dos livros, que crescia nas pequenas cidades do Kansas, Oklahoma e Texas, apenas reforçaram o ceticismo que herdara. As lembranças dos cristãos que povoavam sua juventude não eram das mais agradáveis. Ela ocasionalmentese recordava dos pregadores que baniam três quartos da população mundial por considerá-los pagãos ignorantes condenados a passar a vida eterna em maldição – e que insistiam que a terra e o céu foram criados em sete dias , com todas as provas geológicas e astrofísicas dizendo o contrário. Lembrava-se das mulheres respeitáveis da igreja, sempre tão rápidas em evitar as pessoas que não correspondessem aos seus padrões de decência, apesar de elas próprias ocultarem segredinhos sujos; dos pastores que proferiam epítetos raciais e ludibriavam os trabalhadores para tirar deles todo o dinheiro que conseguissem.”
Tal mediocridade “religiosa” não ocorria por acaso. Há um contexto maior em torno deste tipo de estreiteza de horizontes, que não é um fenômeno local, mas constitui na verdade um problema de escala global, combatido de frente pelos estudantes da teosofia original.
A verdadeira religiosidade não pode ser transformada em prisioneira de uma instituição ou ritual, nem pode distanciar-se por um momento da filosofia ou da ciência. Ela deve, isto sim, avançar inter-disciplinarmente, unida ao livre-pensamento.
Na famosa Carta 88 de “Cartas dos Mahatmas” (Ed. Teosófica, Brasília, dois volumes) , um mestre dos Himalaias – um raja-iogue – afirma que dois terços do sofrimento humano são causados pela falsidade e pelas ilusões provocadas pelas religiões dogmáticas e sacerdotais.
Barack Obama prossegue:
“Para minha mãe, a religião organizada muito frequentemente esconde sua mentalidade limitada sob o manto da piedade; e a crueldade e a opressão, sob o da honestidade. Mas isso não quer dizer que ela não me transmitiu valores religiosos. Para minha mãe, o conhecimento de pontos importantes das grandes religiões do mundo era uma parte necessária de uma educação impecável. Em nossa casa, a Bíblia, o Alcorão e o Bhagavad Gita ficavam na prateleira juntamente com os livros da mitologia grega, norueguesa e africana. Na Páscoa ou no Natal [minha mãe] me arrastava para a igreja, assim como para templos budistas, para a celebração do Ano Novo chinês, para santuários xintoístas ou para antigos locais de rituais hawaianos. Mas fui educado para entender que isso não exigia nenhum compromisso de longo prazo da minha parte, nenhum esforço introspectivo maior ou autoflagelação. Para minha mãe, a religião era uma expressão da cultura humana; ela não explicava a origem da humanidade, era apenas uma das muitas formas – e não necessariamente a melhor maneira – de o homem tentar controlar o desconhecido e entender as mais profundas verdades sobre nossa vida. Em suma, minha mãe via a religião pelos olhos da antropóloga que ela viria a ser; era um fenômeno a ser tratado com respeito, mas também com desapego. (.....) E, apesar do seu secularismo, minha mãe era de muitas formas a pessoa mais espiritualizada que conheci. Tinha um instinto inabalável para a bondade, a caridade e o amor, e passou grande parte da sua vida agindo de acordo com estes instintos, às vezes em detimento de si mesma. Sem a ajuda de textos religiosos ou autoridades externas, trabalhou muito para transmitir a mim os valores que muitos norte-americanos aprendem na escola dominical: honestidade, empatia, disciplina, capacidade de postergar a gratificação pessoal e trabalho duro. Enfurecia-se com a pobreza e a injustiça, e desprezava aqueles que eram indiferentes a ambas.” [12]
Uma Visão Racional e Universalista.
Barack construiu sua vida sobre este alicerce filosófico e emocional, intelectualmente profundo mas também inseparável de atitudes práticas e concretas.
Em suas obras, o leitor encontra passagens em que ele faz, de várias formas, uma declaração de princípios.
Não é difícil perceber que o raciocínio de Barack está baseado em uma visão ampla e universal que pode ser qualificada de claramente teosófica no sentido clássico da palavra. Ele afirma:
“... Dada a diversidade crescente da população norte-americana, os perigos do sectarismo nunca foram maiores. O que quer que já tenhamos sido, não somos mais apenas uma nação cristã; somos também uma nação judaica, muçulmana, budista, e uma nação de descrentes.”
E prossegue:
“Mas presumamos que só tivéssemos cristãos dentro dos limites das nossas fronteiras. Que cristianismo ensinaríamos nas escolas? (....) Que passagens do Evangelho deveriam guiar nossa política pública? Deveríamos seguir o Levítico, que sugere que não há nada de errado com a escravidão e que comer moluscos é uma abominação? E quanto ao Deuteronômio, que sugere apedrejar seu filho caso ele se desvie da fé? Ou deveríamos nos limitar apenas ao Sermão da Montanha – uma passagem tão radical que é duvidoso que nosso Departamento de Defesa sobrevivesse à sua aplicação?”
Definitivamente, a crença cega na letra morta deve ser abandonada.
Os princípios essenciais devem ser percebidos, e eles estão além das formas visíveis. Obama conclui propondo a opção pelo bom senso:
“O que nossa democracia deliberativa e pluralista exige é que pessoas motivadas religiosamente traduzam suas preocupações para valores universais, não determinados pela religião. Isto exige que suas propostas estejam sujeitas a discussões e abertas à razão.” [13]
NOTAS:
[1] “Theosophical Articles”, William Q. Judge, The Theosophy Co., Los Angeles, 1980, edição em dois volumes, ver vol. II, p. 124.
[2] “Change We Can Believe In - Barack Obama’s Plan to Renew America’s Promise”, livro com o programa de governo e sete discursos de Obama, publicado por Three Rivers Press, New York, 2008, 274 pp., ver pp. 265-266.
[3] A Alemanha é um dos países do mundo em que há mais consciência ambiental. A própria Chanceler atual, Angela Merkel, têm uma longa trajetória pessoal de compromisso com a preservação do meio ambiente.
[4] “Change We Can Believe In”, obra citada, p. 267 a 269.
[5] “Change We Can Believe In”, obra citada, pp. 198-199.
[6] “Change We Can Believe In”, obra citada, pp. 201-202.
[7] “Change We Can Believe In”, obra citada, p. 228.
[8] Veja, por exemplo, “The Collected Writings”, Helena Blavatsky, TPH, Índia, volume III, pp. 55-61 e pp. 286-287. E também “The Collected Writings”, volume IV, pp. 439-443, entre outros textos.
[9] “Dreams From My Father”, Barack Obama, Three Rivers Press, 1995 e 2004, New York, 458 pp., ver p. 17.
[10] “Dreams From My Father”, Barack Obama, obra citada, ver p. 09.
[11] “Dreams From My Father”, obra citada, p. 10.
[12] “A Audácia da Esperança”, Barack Obama, Larousse do Brasil, SP, 2007, 400 pp., ver pp. 221, 222 e 223. Nesta citação, segui a edição original em língua inglesa nos casos em que a versão brasileira está inexata. Ver “The Audacity of Hope”, Three Rivers Press, 376 pp., 2006, pp. 203-204.
[13] As citações feitas nestes últimos parágrafos vêm de “A Audácia da Esperança”, obra citada, pp. 236-237.
Sobre a transição mundial e a renovação do atual processo civilizatório, veja o texto “Al Gore e a Tradição Esotérica”, de Carlos Cardoso Aveline, na seção “Crise Climática Global e Mudança de Civilização” do site www.filosofiaesoterica.com. O link direto do artigo é: http://www.filosofiaesoterica.com/ler.php?id=470
Al Gore foi vice-presidente dos EUA e é um dos vencedores do Prêmio Nobel da Paz de 2007.